quarta-feira, 12 de abril de 2017

O CAPITÃO LUIZ CARLOS PREESTES E SUA COLUNA INVITA

O CAPITÃO LUIZ CARLOS PREESTES E SUA COLUNA INVITA 
Quando há mais de setenta anos li a obra de Jorge Amado “O Cavaleiro da Esperança” passei a admirar, memorizando tudo o que tomava conhecimento a respeito da trajetória de Luiz Carlos Prestes por nosso  pais O que aqui escrevo é um resumo do que li e o que tomei conhecimento oral e pela informação popular daqueles que aqui viveram naquela época. 
Vivemos durante sessenta anos numa democracia coroada, num regime de governo parlamentarista dirigida por imperador probo, culto, capaz, com grandes qualidades pessoais.
         Conduzida por uma minoria de militares e civis, numa revolta, foi proclamada a República num flagrante Golpe de Estado, impondo ao povo brasileiro uma republica presidencialista, contista, e centralizadora. Uma verdadeira ditadura por quatro anos ,a prazo fixo. Para o povo poder mudar o governo, somente com impeachment ou golpe de estado. O mais inoperante e incapaz que esse governo seja,  não poderá ser substituído antes de quatro anos. O povo não assimilou essa mudança de governo à principio. Veio, então, a sangrenta  Revolução de 1893, tentando restabelecer o parlamentarismo e regime federativo, lamentavelmente derrotada.
A população ficou à espera de uma verdadeira revolução que restabelecesse a democracia e bons costumes políticos. Mas foi em vão. Veio a política do café com leite, segundo a qual o presidente era um paulista e na outra um mineiro, e , assim sucessivamente.
Formou- se  uma plêiade de oficiais novos que queria modernizar a política do Brasil, eram “os tenentistas” que em 1922 tentaram derrubar o presidente Artur Bernardes. Foram  derrotados e espalhados pelo Brasil a fora.
O capitão Luis Carlos Prestes, que era um deles, foi transferido, para fiscalizar a construção dos quartéis de Santo Ângelo e Santiago do Boqueirão e comandar o Batalhão Ferroviário de Santo Ângelo, que estava construindo a via férrea de Santo Ângelo a Santa Rosa. Chegando aqui nos anos de 1922 a 1923.
Inicialmente parou no Hotel Avenida  no quarto número 29, ao qual, quando ele chegava do quartel à cavalo, .Depois foi morar numa casa de madeira do Sr.Morais na rua Marechal Floriano. Integrou-se e prestou muitos serviços à comunidade santo angelense . Pessoa ética, séria, que respeitava e despertava respeito à comunidade, além de comprovar ser um ótimo patriota .exímio militar e estrategista.Transmitia esperança e admiração aos cidadãos.Todos os que conviveram com ele, que eu conheci, só falavam de bem dele, até nossos dias.
Meu pai o admirava, meu avô o respeitava,  o senhor Ernesto Jung o tratava com dignidade e contava fatos ocorridos com ele O Senhor Assis Brandão o adorava.O compadre de meu pai Janguta  Aires da Silva,fazendeiro de Ijuí foi capitão de suas tropas,chefiando os revolucionários  daquela cidade,e, o acompanhou até a Bolívia.O Sr .Miguel Lemos, marido da professora Zelina Monteiro contava muitas histórias. Enfim,,a  minha geração se criou  admirando e quase cultuando a figura de Luiz Carlos Prestes – “O Cavaleiro da Esperança”, de quase um povo inteiro.Muitos comerciantes daqui e de São Luiz Gonzaga , cujas mercadorias ele requisitava em nome da Revolução, passando recibo para devolução futura, não se queixavam muito do prejuízo, porque admiravam a sua causa.  Conquistou a maioria da opinião pública, principalmente pela sua postura e marcante personalidade Sempre voltado para o bem público.
Instalou a sede do Quartel do Batalhão Ferroviário na Travessa Mauá, encima de um barranco.
Trouxe de Ijuí e instalou a rede elétrica da cidade de Santo Ângelo, para o Sr Joaquim Rolim de Moura. Fez estudo e projeto para a Usina do  Ijuisinho , também, para o Sr. Quinsote. Este quase a instalou totalmente construindo a casa das máquinas e os túneis  faltando somente a barragem ,etc., devido a encampação pela Prefeitura não foi concluída.Construiu a escadaria de acesso a gare da Viação Férrea.Construiu o ramal ferroviário de Santo Ãngelo a Comandaí .O pai de Gentil Aristeu de Souza,Teodomiro Aristeu de Souza , construiu as cercas  dos dois lados dos trilhos em todo esse percurso.Fez o projeto do Colégio Elementar.Sempre assessorado pelo Tenente Portela,alfabetizaram todos os soldados e funcionários do Batalhão Ferroviário.
Iniciada a revolução em São Luiz Gonzaga e Santo Ângelo na madrugada de 29 de outubro de 1924. Estabeleceu uma Linha defensiva numa barroca existente perto de onde hoje está o Supermercado Pague Menos com um grande contingente de soldados armados com taquaras de bambu em vez de fuzis..., conforme me informou o  Sr .Miguel Lemos.O Coronel Quinzote atacou com 200 provisórios bem armados, porém,do alto,vendo aquela grande tropa entrincheirada ao longo da barroca, parou, e, deu em retirada.
O comando da Revolução era aqui em Santo Ângelo  ,embora houvesse um braço na Fronteira comandado por Honório Lemos e outro no centro do Estado comandado por Zeca Neto.
Atacaram Ijuí de trem para obter reabastecimento. Tiveram de voltar de ré, porque os defensores foram avisados de que seriam atacados. O comunicado foi por telégrafo , dado por uma menina filha do estacionário  .Os governistas montaram duas linhas de fogo ao lado dos dois lados dos trilhos e os atacantes ficaram sem ação dentro dos vagões.
Como ponto estratégico da Revolução, o Capitão Luiz Carlos Prestes, então, elevado ao posto de General da Revolução, mandou ocupar a ponte do rio Ijui Grande, deixando o comando e guarda do trecho até o Ijuisinho  com o Coronel Pedro Arão.Foi a última vez que este lutou como um comandante  da Revolução.
Foram atacados pelo oitavo Regimento de Caçadores de São Leopoldo ,mais os dois             regimentos de Provisórios,o 28 e o 29, uma força três vezes superior.Mandou o comandante do Regimento de Caçadores matar os cavalos em número de 600, para obrigar a luta ser a pé na ponte. Vendo-se perdido, Pedro Arão rompeu o cerco e seguiu com o seu sétimo de cavalaria em retirada para São Luiz Gonzaga.
Esse foi um combate decisivo para os rumos da Revolução. Reuniram-se muitos chefes da mesma, tais como Cordeiro de Farias,  Juarez Távora, Tenente Portela,Zeca Neto Honório Lemes em São Luiz Gonzaga. Decidiram seguir para o Norte para se encontrarem com as forças de Isidoro Dias Lopes e General Miguel Costa.          
 Pedro Arão pediu a Prestes que o liberasse de sua palavra de honra de seguir com sua Coluna, pois sua revolução estava perdida, porque não tinha o apoio das mulheres, como ocorreu na Guerra dos  Farrapos , onde o apoio das mesmas foi decisivo para sua manutenção.( as mulheres de Giruá seguido vinham pedir o retorno dos maridos para dar assistências às famílias e aos bens).Pedro Arão retornou então com seu batalhão para Giruá.
ROMPENDO O CIRCULO DE FERRO
O Estado Maior das forças governistas organizou  um “ círculo de ferro” para sitiarem as forças revolucionárias e obrigá-las a atravessarem o rio Uruguai  e emigrarem para a Argentina, criando o cerco com varias unidades do Exército,Brigada Militar, Forças Provisórias, forças da Baia e de São Paulo, estabelecidas em São Borja,Santiago, Tupanciretã , Cruz Alta, Santo Ângelo e Palmeira das Missões, formando o círculo de ferro , o qual, um simples golpe de tática , cortou no momento em que ele estava preparado para o aperto final no dia 30 de dezembro .Cada um desses destacamentos  deveria ter mais de 2.000 homens num total de 12000 soldados.Os revolucionários deveriam ter 1.500 homens.Com a disposição dessas forças,  estava sitiada a zona dos revolucionários.Seria a marcha combinada sobre São Luiz Gonzaga.
Prestes que era sempre bem informado sobre o movimento dos inimigos, teve conhecimento desse  plano ,e, no dia 27 de dezembro abandonou aquela cidade indo acampar em São Miguel.Uma parte da Coluna havia simulado partir para Tupanciretã ,colocando fogo no campo, despistando, seguiram para o Entre Ijuis, reunindo-se ao restante das Forças no Passo do Camilo, onde acamparam antes de baldear o rio, antes de iniciarem a grande marcha.
O Coronel Luiz Caros Prestes procurou passar pelo lugar onde o cerco estava menos guarnecido e, sem dar um tiro ,e, sem se fazer notar.Quando as forças governistas invadiram São Luiz Gonzaga, lá não havia nenhum revolucionário.
O COMBATE DO ARROIO CONCEIÇÃO
Precisando reabastecer suas tropas Prestes resolveu atacar a Vila de Ijuí. Os governistas estabeleceram a sua resistência na ponte do arroio Conceição, sob o comando do Cel.Dr. Bozano.  Este combate teve grande importância para o desenvolvimento da guerra, pois, forçou os revolucionários a procurarem logo o rumo do Norte, partindo para o Rincão da Ramada  em Palmeira das Missões.Nesse combate a cavalaria revolucionária de São Borja teve grande atuação.
O COMBATE DA RAMADA
Narrada por João Pinto Ribeiro, integrante  do décimo  sexto Corpo Auxiliar da Brigada Militar,ou Força Provisória , ao seu sobrinho Osório Pinto residente em Santo Ângelo.
Após o insucesso do ataque à Vila de Ijuí as forças da Coluna Prestes rumaram à costa do rio Uruguai, acampando num capão de mato  em Rincão da Ramada, entre Ijuí e Palmeira das Missões.Ali foram atacadas pelos provisórios do 16 Corpo Auxiliar da Brigada Militar vindo de Independência Esquina Schotz, onde estavam acantonados.
O combate foi violento.  Homens e cavalos tombaram mortos numa lagoa que ficou tinta de sangue.
Em dado momento terminou a munição  .Frente a frente,  as forças contrárias.Chico Taborda, figura popular de Santo Ângelo e de Giruá, pela sua valentia nos combates, com apenas 15 anos,montado num burro, vinha distribuindo a munição racionada: apenas um pente de balas para cada soldado.Uma bala atingiu sua montaria que caiu mortalmente.Não  titubeando  ,colocou a sacola de munições nas costas e continuou seu trabalho a pé...
Durante o combate, quando  a artilharia vomitava suas granadas uma foi cair próximo ao comandante, que do alto de uma coxília acompanhava o desenrolar da batalha.Prestes para tranqüilizar seus oficiais, disse que era uma cortesia dos governistas, que queriam festejar seu aniversário que transcorria naquele dia..
Terminada a munição, deram ordem de calar as baionetas e enfrentar na marra o que desse e viesse.
Quando estavam frente a frente com o inimigo, de baionetas caladas, para o combate direto e decisivo, chegou em  socorro das forças provisórias o 18 Regimento de Brigada Militar comandada pelo Cel. Claudino Nunes Pereira(meu tio), que os tirou do aperto.Uma tropa bem armada e com mais de2000 homens.Deram ordem de retirada.Os outros, da Coluna Prestes, também se retiraram.
Prestes, mais uma vez  dando provas de ser um gênio de guerra, botou fogo no campo,e, escapou com sua tropa, por traz da fumaça, partindo do capão de mato.A Brigada avançou, mas, não mais o encontrou.Ele havia rumado para o rio Uruguai,onde em sua trajetória morreu o seu companheiro inseparável  – o Tenente Mário Portela Fagundes.
SÍTIO DE BATALHA DA COLUNA PRESTES E TÚMULO DO TENENTE PORTELA.
Encurralada e acampada em Alto Uruguai Prestes com sua Coluna precisava  encontrar uma saída para o Estado de Santa Catarina, atravessando o rio Uruguai. O tenente Mari o Portela foi encarregado de achar um caminho para a travessia  do rio Uruguai,e nessa missão , a 24 de janeiro de 1925 acampou ás margens do arroio Rio Pardo já próximo ao Estado de Santa Catarina. O tenente e um grupo de revolucionários  e soldados do primeiro Batalhão Ferro Viário foram atacados pelas forças Legalistas, vindas de Palmeira das Missões -6 Corpo Auxiliar da Brigada Militar, que levou a morte de Portela.Assestaram metralhadoras, cujas rajadas levaram à morte trinta revolucionários,poucos escapando.Ali estava o revolucionário Theodomiro  Aristeu de Souza, pai do agropecuarista Gentil Aristeu de Souza, que relatou este acontecimento, assim narrado por ele:   entrincheirados ,no fragor  da luta ,disse” abaixe-se tenente que as balas vêm zunindo” e abaixou-se ,e o Tenente,de pé, foi atingido por um certeiro balaço .O Sr. Teodomiro ,agarrando-o, atravessou o rio a nado com ele nas costas.Era tarde de mais,pois,ele veio logo a falecer.O Sr. Teodomiro  desgarrou-se da tropa voltando a pé  para Santo Ângelo, durante 5 dias sem comer.
Fica no município de Pinheiro do Vale. Local onde se encontra o monumento  em homenagem ao Tenente Portela, sinalizado por 30 cruzes , representando os que ali morreram em combate. O local se reveste de valor histórico e ambiental, pois, está em local tombado pela Mata Atlântica  , às margens do rio Pardo e cercado pela mata nativa.
Ficou conhecido como o Cemitério dos Prestes. A comunidade expressa sua reverência ao Sítio Histórico através da solenidade anual realizada peLos  CTG e a Prefeitura, “O CANTO DOS BRAVOS”.
     
                                     Teodomiro A souza                           



 Mario Portela
A ODISSÉIA E O FIM DA COLUNA PRESTES
Após a travessia do Rio Uruguai a Coluna seguiu em sua marcha em direção ao Estado do Paraná,  onde se uniram ás Forças paulistas dos Generais Isidoro Dias Lopes e Miguel  Costa, onde formaram uma só tropa.
Até foram sitiadas  pelas forças do General Rondon contra o Rio Paraná, que com um sorriso de índio ,disse:”eles estão presos como numa garrafa”, mas, por idéia de Luiz Carlos Prestes, eles quebraram o fundo da garrafa que era de vidro, atravessando o rio Paraná e incursando no território Paraguaio seguindo por uma parte desse pais,voltando para o Brasil pelo Sul do Mato Grosso.Foi uma marcha de 26.000  quilômetros , usando tática de guerra de movimento, sendo a maior do mundo.Do Mato Grosso passaram para Goiás ,Minas Gerais,Piauí, Maranhão e Ceará.Até o bandoleiro Lampião à soldo do Governo tentou lutar contra ela ,mas não a encontrou.Foi uma marcha gloriosa, que comportaria escrever muitas páginas  a respeito.
Conforme consta em sua biografia Mao Tse Tung se inspirou nessa marcha de um engenheiro brasileiro também, exilado na Rússia,  para criar  a sua Grande Marcha.História lida e contada pelo  odontólogo  Renato Pedro Lauermann.
Meu primo Coronel Ney Pinto de Alencar  me disse que consta na Bibloteca  da Escola Superior de Guerra do Exército que  Luiz Carlos Prestes ajudou a organizar a Defesa de Stalingrado.
Posteriormente a Coluna atravessou de volta o Estado do Mato Grosso, seguindo o rumo da Bolívia  e nesse pais  emigraram, conforme consta no texto  da Ata que oficializou a emigração da Coluna  para a  Bolívia.
Luiz Carlos Prestes contratou a construção de ferrovias com o Governo da Bolívia. Com o dinheiro que foi recebendo pela realização desses trabalhos, ele foi mandando de volta para o Brasil seus soldados  exilados .
Durante o tempo em que esteve exilado na Bolívia, ganhou uma coleção de livros com a obra completa de Karl Marx. Gostou, e, após estudo, resolveu adotar a ideologia comunista, tentando, também implantar um governo comunista no Brasil.
Partiu para outro exílio na Argentina, acompanhado de outros,  como Juarez Távora, Cordeiro de Farias,Siqueira Campos,João Alberto e tantos mais revolucionários.Declinou de comandar a Revolução de 30 como”Cavaleiro da Esperança”, porque seu ideal agora era outro.
Este é um resumo da odisséia da COLUNA PRESTES  pelo Brasil afora, SEM NUNCA SER DERROTADA – INVICTA!

Ela sacudiu e alertou o Brasil para a grande evolução e melhorias sociais, que viriam a partir dos anos de mil novecentos e trinta!    



          

  

Um comentário:

  1. Admirável todos os registros feitos por Antonio Carlos Rousselet. Um historiador que ainda não teve seu merecido reconhecimento. Esperamos que seja antes de sua partida, haja vista sua idade. Salve Deus, possamos desfrutar ainda de seus conhecimentos.

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