quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Como se forma um contador de histórias?

Como se forma um contador de histórias?


Entre um chimarrão e outro buscamos compreender porque Antonio Carlos Rousselet é um contador de histórias. Mesmo não sendo um professor de história, letras ou jornalista de profissão, pretende, em breve, concluir mais um livro e continuar dividindo suas memórias conosco.
 Rousselet é um ilustre morador de Santo Ângelo que completa 87 anos na próxima semana. Em sua casa, fomos recebidos por Maria Krejci Rousselet, a esposa com quem teve um filho homem e cinco filhas mulheres. Fomos à varanda, onde sob a luz natural repousam quase uma dezena de orquídeas floridas. Sentamo-nos, e logo aparece Rousselet, com a ajuda de um andador vem até a poltrona preparada ao nosso lado e demonstra atenção. Com olhar sereno e postura de respeito por nosso interesse, logo se dispõe a falar de sua compreensão da história.
Roussellet não faz mistérios e nos conta que já plantou soja, tungue – (Vernicia fordii tug), criou gado, 10 mil galinhas poedeiras, uma indústria de fertilizante e óleos, se formou no Ginásio Santo Ângelo no curso que era chamado de “Escola do Comércio” e trabalhou diretamente com Siegfried Ritter, na opinião de Rousselet, o melhor prefeito que Santo Ângelo já teve até hoje, além disso, considera um grande contabilista autodidata que muito lhe ensinou.
O entrevistado é descendente de imigrantes franceses e chegou a Santo Ângelo com quatro anos de idade. Assistiu a explosão demográfica do município, desde a implantação da Estação Férrea (na sua opinião a obra que mais impactou na expansão do município) até a presente cena política que domina Santo Ângelo. Mesmo com a dificuldade imposta pela idade, faz questão de dividir suas memorias. Percebeu ainda jovem que a compreensão obtida com a informação dos contextos políticos e econômicos, ajudava as pessoas da comunidade viverem melhor e com mais consciência. A lição foi obtida observando a postura do pai, Carlos José Rousselet, e do avô, Major Quirino Nunes Pereira.
Ele conta que o avô Quirino era professor e secretário particular do Senador Pinheiro Machado, escrevia os discursos do político e participou da campanha republicana. Seu pai, Carlos José Rousselet, tinha relação com diversas pessoas na região no tempo em que não existiam rádios locais e muitos imigrantes eram fanatizados pelas ideias de Hitler, como caixeiro viajante que era, obtinha informações privilegiadas e neste trânsito, além do comércio de seus produtos, desempenhava a função de mensageiro de notícias econômicas e políticas.
O gosto pela comunicação social veio deste contexto. Além disso, Rousselet chegou a Santo Ângelo num tempo onde as oligarquias ainda imperavam. Sentia que os pequenos comerciantes e empresários eram oprimidos pela força de algumas famílias. No seu entendimento a informação liberta e através das notícias era possível contribuir com o progresso de Santo Ângelo.
Naquele breve instante em que conversamos, concluímos que o desejo de uma cidade mais próspera e melhor de se instalar mantém viva a chama da comunicação em Antonio Carlos Rousselet, pode ser este o motivo pelo qual tem forças para participar de mais um projeto literário aos 87 anos.


Rousselet já escreveu dois livros, o primeiro deles leva o título “Santo Ângelo que conheci”, o segundo narra a perseguição aos colonos alemães e italianos na era Vargas, mas quem acha que ele está inativo se engana, agora prepara mais um lançamento: “Santo Ângelo que Conheço, título que vem seguido da palavra francesa – C’La Vie – (representa vida em Frances)

Nenhum comentário:

Postar um comentário