Quando há mais de setenta anos li a
obra de Jorge Amado “O Cavaleiro da Esperança” passei a admirar, memorizando
tudo o que tomava conhecimento a respeito da trajetória de Luiz Carlos Prestes
por nosso pais O que aqui escrevo é um
resumo do que li e o que tomei conhecimento oral e pela informação popular
daqueles que aqui viveram naquela época.
Vivemos durante sessenta anos numa
democracia coroada, num regime de governo parlamentarista dirigida por imperador
probo, culto, capaz, com grandes qualidades pessoais.
Conduzida por
uma minoria de militares e civis, numa revolta, foi proclamada a República num
flagrante Golpe de Estado, impondo ao povo brasileiro uma republica
presidencialista, contista, e centralizadora. Uma verdadeira ditadura por
quatro anos ,a prazo fixo. Para o povo
poder mudar o governo, somente com impeachment ou golpe de estado. O mais inoperante
e incapaz que esse governo seja, não
poderá ser substituído antes de quatro anos. O povo não assimilou essa mudança
de governo à principio. Veio, então, a sangrenta Revolução de 1893, tentando restabelecer o
parlamentarismo e regime federativo, lamentavelmente derrotada.
A população ficou à espera de uma verdadeira revolução que
restabelecesse a democracia e bons costumes políticos. Mas foi em vão. Veio a
política do café com leite, segundo a qual o presidente era um paulista num
período e no outro um mineiro, e , assim sucessivamente.
Formou- se uma plêiade
de oficiais novos que queria modernizar a política do Brasil, eram “os
tenentistas” que em 1922 tentaram derrubar o presidente Artur Bernardes. Foram derrotados e espalhados pelo Brasil a fora.
O capitão Luis Carlos Prestes, que era um deles, foi
transferido, para fiscalizar a construção dos quartéis de Santo Ângelo e
Santiago do Boqueirão e comandar o Batalhão Ferroviário de Santo Ângelo, que
estava construindo a via férrea de Santo Ângelo a Santa Rosa. Chegando aqui nos
anos de 1922 a 1923.
Inicialmente parou no Hotel Avenida no quarto número 29, ao qual, quando ele chegava
do quartel à cavalo, ao qual ele seguia. Depois foi morar numa casa de madeira
do Sr.Morais na rua Marechal Floriano. Integrou-se e prestou muitos serviços à
comunidade santo angelense Pessoa ética,
séria, que respeitava e despertava respeito à comunidade, além de comprovar ser
um ótimo patriota .exímio militar e estrategista.Transmitia esperança e
admiração aos cidadãos.Todos os que conviveram com ele, que eu conheci, só
falavam de bem dele, até nossos dias.
Meu pai o admirava, meu avô o respeitava, o senhor Ernesto Jung o tratava com dignidade
e contava fatos ocorridos com ele O Senhor Assis Brandão o adorava.O compadre
de meu pai Janguta Aires da Silva,fazendeiro
de Ijuí foi capitão de suas tropas,chefiando os revolucionários daquela cidade,e, o acompanhou até a Bolívia.O
Sr .Miguel Lemos, marido da professora Zelina Monteiro contava muitas
histórias. Enfim,a minha geração se
criou admirando e quase cultuando a
figura de Luiz Carlos Prestes – “O Cavaleiro da Esperança”, de quase um povo
inteiro.Muitos comerciantes daqui e de São Luiz Gonzaga , cujas mercadorias ele
requisitava em nome da Revolução, passando recibo para devolução futura, não se
queixavam muito do prejuízo, porque admiravam a sua causa. Conquistou a maioria da opinião pública,
principalmente pela sua postura e marcante personalidade Sempre voltado para o
bem público.
Instalou a sede do Quartel do Batalhão Ferroviário na
Travessa Mauá, encima de um barranco.
Trouxe de Ijuí e instalou a rede elétrica da cidade de Santo
Ângelo, para o Sr Joaquim Rolim de Moura. Fez estudo e projeto para a Usina
do Ijuisinho , também, para o Sr. Quinsote.
Este quase a instalou totalmente construindo a casa das máquinas e os túneis faltando somente a barragem ,etc., devido a
encampação pela Prefeitura não foi concluída.Construiu a escadaria de acesso a
gare da Viação Férrea.Construiu o ramal ferroviário de Santo Ãngelo a Comandai .O
pai de Gentil Aristeu de Souza,Teodomiro Aristeu de Souza , construiu as
cercas dos dois lados dos trilhos em
todo esse percurso.Fez o projeto do Colégio Elementar.Sempre assessorado pelo
Tenente Portela,alfabetizaram todos os soldados e funcionários do Batalhão
Ferroviário.
Iniciada a revolução em São Luiz Gonzaga e Santo Ângelo na
madrugada de 29 de outubro de 1924. Estabeleceu uma Linha defensiva numa
barroca existente perto de onde hoje está o Supermercado Pague Menos com um
grande contingente de soldados armados com taquaras de bambu em vez de fuzis...,
conforme me informou o Sr .Miguel
Lemos.O Coronel Quinzote atacou com 200 provisórios bem armados, porém,do
alto,vendo aquela grande tropa entrincheirada ao longo da barroca, parou,pensou,
e, deu em retirada.
O comando da Revolução era aqui em Santo Ângelo ,embora houvesse um braço na Fronteira
comandado por Honório Lemes e outro no centro do Estado comandado por Zeca
Neto.
Atacaram Ijuí de trem para obter reabastecimento. Tiveram de
voltar de ré, porque os defensores foram avisados de que seriam atacados. O
comunicado foi por telégrafo , dado por uma menina filha do estacionário .Os governistas montaram duas linhas de fogo
aos dois lados dos trilhos e os atacantes ficaram
sem ação dentro dos vagões.
Como ponto estratégico da Revolução, o Capitão Luiz Carlos
Prestes, então, elevado ao posto de General da Revolução, mandou ocupar a ponte
do rio Ijui Grande, deixando o comando e guarda do trecho até o Ijuisinho com o Coronel Pedro Arão.Foi a última vez que
este lutou como um comandante da
Revolução.
Foram atacados pelo oitavo Regimento de Caçadores de São
Leopoldo ,mais os dois regimentos
de Provisórios,o 28 e o 29, uma força três vezes superior.Mandou o comandante
do Regimento de Caçadores matar os cavalos em número de 600, para obrigar a
luta ser a pé na ponte. Vendo-se perdido, Pedro Arão rompeu o cerco e seguiu
com o seu sétimo de cavalaria em retirada para São Luiz Gonzaga.
Esse foi um combate decisivo para os rumos da Revolução.
Reuniram-se muitos chefes da mesma, tais como Cordeiro de Farias, Juarez Távora, Tenente Portela,Zeca Neto
Honório Lemes em São Luiz Gonzaga. Decidiram seguir para o Norte para se
encontrarem com as forças de Isidoro Dias Lopes e General Miguel Costa.
Pedro Arão pediu a
Prestes que o liberasse de sua palavra de honra de seguir com sua Coluna, pois
sua revolução estava perdida, porque não tinha o apoio das mulheres, como
ocorreu na Guerra dos Farrapos , onde o
apoio das mesmas foi decisivo para sua manutenção.( as mulheres de Giruá
seguido vinham pedir o retorno dos maridos para dar assistências às famílias e
aos bens).Pedro Arão retornou então com seu batalhão para Giruá.
ROMPENDO O CIRCULO DE FERRO
O Estado Maior das forças governistas organizou um “ círculo de ferro” para sitiarem as
forças revolucionárias e obrigá-las a atravessarem o rio Uruguai e emigrarem para a Argentina, criando o cerco
com varias unidades do Exército,Brigada Militar, Forças Provisórias, forças da
Baia e de São Paulo, estabelecidas em São Borja,Santiago, Tupanciretã , Cruz
Alta, Santo Ângelo e Palmeira das Missões, formando o círculo de ferro , o
qual, um simples golpe de tática , cortou no momento em que ele estava
preparado para o aperto final no dia 30 de dezembro .Cada um desses
destacamentos deveria ter mais de 2.000
homens num total de 14000 soldados.Os revolucionários deveriam ter 1.500
homens.Com a disposição dessas forças,
estava sitiada a zona dos revolucionários.Seria a marcha combinada sobre
São Luiz Gonzaga.
Prestes que era sempre bem informado sobre o movimento dos
inimigos, teve conhecimento desse plano ,e,
no dia 27 de dezembro abandonou aquela cidade indo acampar em São Miguel.Uma
parte da Coluna havia simulado partir para Tupanciretã ,colocando fogo no
campo, despistando, seguiram para o Entre Ijuis, reunindo-se ao restante das
Forças no Passo do Camilo, onde acamparam antes de baldear o rio, antes de
iniciarem a grande marcha.
O Coronel Luiz Caros Prestes procurou passar pelo lugar onde
o cerco estava menos guarnecido e, sem dar um tiro ,e, sem se fazer
notar.Quando as forças governistas invadiram São Luiz Gonzaga, lá não havia
nenhum revolucionário.
O COMBATE DO ARROIO CONCEIÇÃO
Precisando reabastecer suas tropas Prestes resolveu atacar a
Vila de Ijuí. Os governistas estabeleceram a sua resistência na ponte do arroio
Conceição, sob o comando do Cel.Dr. Bozano. Este combate teve grande importância para o
desenvolvimento da guerra, pois, forçou os revolucionários a procurarem logo o
rumo do Norte, partindo para o Rincão da Ramada
em Palmeira das Missões.Nesse combate a cavalaria revolucionária de São
Borja teve grande atuação.
O COMBATE DA RAMADA
Narrada por João Pinto Ribeiro, integrante do décimo sexto Corpo Auxiliar da Brigada Militar,ou
Força Provisória , ao seu sobrinho Osório Pinto residente em Santo Ângelo.
Após o insucesso do ataque à Vila de Ijuí as forças da Coluna
Prestes rumaram à costa do rio Uruguai, acampando num capão de mato em Rincão da Ramada, entre Ijuí e Palmeira
das Missões.Ali foram atacadas pelos provisórios do 16 Corpo Auxiliar da
Brigada Militar vindo de Independência, Esquina Schotz, onde estavam
acantonados.
O combate foi violento. Homens e cavalos tombaram mortos numa lagoa
que ficou tinta de sangue.
Em dado momento terminou a munição .Frente a frente, as forças contrárias.Chico Taborda, figura
popular de Santo Ângelo e de Giruá, pela sua valentia nos combates, com apenas
15 anos,montado num burro, vinha distribuindo a munição racionada: apenas um
pente de balas para cada soldado.Uma bala atingiu sua montaria que caiu
mortalmente.Não titubeando ,colocou a sacola de munições nas costas e
continuou seu trabalho a pé...
Durante o combate, quando
a artilharia vomitava suas granadas uma foi cair próximo ao comandante,
que do alto de uma coxilia acompanhava o desenrolar da batalha.Prestes para
tranqüilizar seus oficiais, disse que era uma cortesia dos governistas, que
queriam festejar seu aniversário que transcorria naquele dia..
Terminada a munição, deram ordem de calar as baionetas e
enfrentar na marra o que desse e viesse.
Quando estavam frente a frente com o inimigo, de baionetas
caladas, para o combate direto e decisivo, chegou em socorro das forças provisórias o 18 Regimento
de Brigada Militar comandada pelo Cel. Claudino Nunes Pereira(meu tio), que os
tirou do aperto.Uma tropa bem armada e com mais de2000 homens.Deram ordem de
retirada.Os outros, da Coluna Prestes, também se retiraram.
Prestes, mais uma vez
dando provas de ser um gênio de guerra, botou fogo no campo,e, escapou
com sua tropa, por traz da fumaça, partindo do capão de mato.A Brigada avançou,
mas, não mais o encontrou.Ele havia rumado para o rio Uruguai,onde em sua
trajetória morreu o seu companheiro inseparável – o Tenente Mário Portela Fagundes.
SÍTIO DE BATALHA DA COLUNA PRESTES E TÚMULO DO TENENTE
PORTELA.
Encurralada e acampada em Alto Uruguai Prestes com sua Coluna
precisava encontrar uma saída para o
Estado de Santa Catarina, atravessando o rio Uruguai. O tenente Mari o Portela
foi encarregado de achar um caminho para a travessia do rio Uruguai,e nessa missão , a 24 de
janeiro de 1925 acampou ás margens do Rio Pardo já próximo ao Estado de Santa
Catarina. O tenente e um grupo de revolucionários e soldados do primeiro Batalhão Ferro Viário
foram atacados pelas forças Legalistas, vindas de Palmeira das Missões -6 Corpo
Auxiliar da Brigada Militar, que levou à morte de Portela.Assestaram metralhadoras,
cujas rajadas levaram à morte trinta revolucionários,poucos escapando.Ali
estava o revolucionário Theodomiro Aristeu de Souza, pai do agropecuarista Gentil
Aristeu de Souza, que relatou este acontecimento, assim narrado por ele: entrincheirados ,no fragor da luta ,disse” abaixe-se tenente que as
balas vêm zunindo” e abaixou-se ,e o Tenente,de pé, foi atingido por um
certeiro balaço .O Sr. Teodomiro ,agarrando-o, atravessou o rio a nado com ele
nas costas.Era tarde de mais,pois,ele veio logo a falecer.O Sr. Teodomiro desgarrou-se da tropa voltando a pé para Santo Ângelo, durante 5 dias sem comer.
Fica no município de Pinheiro do Vale. Local onde se encontra
o monumento em homenagem ao Tenente Portela,
sinalizado por 30 cruzes , representando os que ali morreram em combate. O
local se reveste de valor histórico e ambiental, pois, está em local tombado
pela Mata Atlântica , às margens do rio
Pardo e cercado pela mata nativa.
Ficou conhecido como o Cemitério dos Prestes. A comunidade
expressa sua reverência ao Sítio Histórico através da solenidade anual
realizada peLos CTG e a Prefeitura, “O
CANTO DOS BRAVOS”.
A ODISSÉIA E O FIM DA COLUNA PRESTES
Após a travessia do Rio Uruguai a Coluna seguiu em sua marcha
em direção ao Estado do Paraná, onde se
uniram ás Forças paulistas dos Generais Isidoro Dias Lopes e Miguel Costa, onde formaram uma só tropa.
Até foram sitiadas pelas forças do General Rondon contra o Rio
Paraná, que com um sorriso de índio ,disse:”eles estão presos como numa
garrafa”, mas, por idéia de Luiz Carlos Prestes, eles quebraram o fundo da
garrafa que era de vidro, atravessando o rio Paraná e incursando no território
Paraguaio seguindo por uma parte desse pais,voltando para o Brasil pelo Sul do
Mato Grosso.Foi uma marcha de 26.000
quilômetros , usando tática de guerra de movimento, sendo a maior do mundo.Do
Mato Grosso passaram para Goiás ,Minas Gerais,Piauí, Maranhão e Ceará.Até o
bandoleiro Lampião à soldo do Governo tentou lutar contra ela ,mas não a
encontrou.Foi uma marcha gloriosa, que comportaria escrever muitas páginas a respeito.
Conforme consta em sua biografia Mao Tse Tung se inspirou
nessa marcha de um engenheiro brasileiro também, exilado na Rússia, para criar
a sua Grande Marcha.História lida e contada pelo odontólogo
Renato Pedro Lauermann.
Meu primo Coronel Ney Pinto de Alencar me disse que consta na Bibloteca da Escola Superior de Guerra do Exército
que Luiz Carlos Prestes ajudou a
organizar a Defesa de Stalingrado.
Posteriormente a Coluna atravessou de volta o Estado do Mato
Grosso,e após percorrerem 14 Estados do pais, num total de 26.000 Km,, seguindo
o rumo da Bolívia e nesse pais emigraram, conforme consta no texto da Ata que oficializou a emigração da
Coluna para a Bolívia.
Luiz Carlos Prestes contratou a construção de ferrovias com o
Governo da Bolívia. Com o dinheiro que foi recebendo pela realização desses
trabalhos, ele foi mandando de volta para o Brasil seus soldados exilados .
Durante o tempo em que esteve exilado na Bolívia, ganhou uma
coleção de livros com a obra completa de Karl Marx. Gostou, e, após estudo,
resolveu adotar a ideologia comunista, tentando, também implantar um governo
comunista no Brasil.
Partiu para outro exílio na Argentina, acompanhado de outros,
como Juarez Távora, Cordeiro de
Farias,Siqueira Campos,João Alberto e tantos mais revolucionários.Declinou de
comandar a Revolução de 30 como”Cavaleiro da Esperança”, porque seu ideal agora
era outro.
Este é um resumo da odisséia da COLUNA PRESTES pelo Brasil afora, SEM NUNCA SER DERROTADA –
INVICTA!
Ela sacudiu e alertou o Brasil para a grande evolução e
melhorias sociais, que viriam a partir dos anos de mil novecentos e trinta!